As florestas do mundo continuam a diminuir, com o aumento da população e a conversão das áreas florestais para a agricultura e outros usos, mas nos últimos 25 anos, a taxa de desflorestação diminuiu em mais de 50 por cento a nível mundial, disse a FAO num relatório agora publicado. África é o único continente do mundo que regista uma crescente perda florestal.
Desde 1990, perderam-se cerca de 129 milhões de hectares de florestas – o que equivale aproximadamente à área da África do Sul, de acordo com o estudo mais abrangente sobre as florestas da FAO até à data.
Contudo, é de notar que há uma maior área florestal protegida, e que mais países estão a melhorar a sua gestão florestal. Isto geralmente é alcançado através de legislação, incluindo a avaliação e monitorização dos recursos florestais e um maior envolvimento das comunidades locais nas políticas de planeamento e desenvolvimento.
O relatório da FAO, que cobre 234 países e territórios, foi apresentado no Congresso Florestal Mundial realizada esta semana em Durban, África do Sul.
“As florestas desempenham um papel fundamental na luta contra a pobreza rural, na segurança alimentar e como meio de subsistência das populações. E prestam serviços ambientais vitais, tais como ar e água limpos, conservação da biodiversidade e luta contra as alterações climáticas “, afirmou o Director-geral da FAO, José Graziano da Silva, no lançamento do relatório em Durban.
Graziano da Silva também destacou uma “encorajadora tendência para a redução das taxas de desflorestação e de emissão de carbono das florestas”, bem como para melhores informações que podem orientar políticas adequadas, salientando que os inventários florestais nacionais cobrem actualmente 81 por cento da área florestal global, o que representa um aumento substancial ao longo dos últimos 10 anos.
“A evolução tem sido positiva, mas temos de fazer melhor”, acrescentou o Director-geral da FAO: “Não vamos ter sucesso na redução dos impactos das alterações climáticas e na promoção do desenvolvimento sustentável se não conservarmos as nossas florestas e se os seus recursos não forem utilizados de forma sustentável”.
Enquanto que em 1990 as florestas cobriam 31,6 por cento das áreas terrestres do planeta, o que corresponde a 4.128 milhões de hectares, em 2015 a sua área diminuiu para 30,6 por cento, ou 3.999 milhões de hectares.
Entretanto, a taxa líquida anual de desflorestação diminuiu de 0,18 por cento em 1990, para 0,08 por cento durante o período de 2010-2015.
Hoje, a maioria (93 por cento) da área florestal global é de floresta natural: uma categoria que inclui as áreas de floresta primária, onde a perturbação humana tem sido minimizada, e as áreas de floresta secundária, que foram regeneradas naturalmente.
A floresta plantada, outra subcategoria, corresponde actualmente a 7 por cento do total da área florestal do planeta, tendo aumentado mais de 110 milhões de hectares desde 1990.
O relatório da FAO salienta a enorme importância das florestas para as pessoas, o meio ambiente e a economia global.
O sector florestal contribui com cerca de 600.000 milhões de dólares anuais para o Produto Interno Bruto mundial e emprega mais de 50 milhões de pessoas.
África e América do Sul registaram a maior perda anual líquida de florestas em 2010-2015, com 2,8 e 2 milhões de hectares perdidos, respectivamente, mas o relatório mostra como o volume de perdas foi “substancialmente reduzido” em comparação com os cinco anos anteriores.
Desde 1990, a maior parte da desflorestação ocorreu em regiões tropicais. Por outro lado, a área florestal líquida aumentou em países de clima temperado, enquanto tem havido relativamente poucas mudanças nas regiões boreais e subtropicais.
Porém, dado o crescimento da população mundial, a área média de floresta “per capita” diminuiu, principalmente em áreas tropicais e subtropicais, mas também em todas as outras regiões climáticas, com a excepção da temperada.
Globalmente, a área de floresta natural está a diminuir e a das florestas plantadas a aumentar. E embora a maioria das florestas permaneçam sob propriedade pública, tem aumentado a área cultivada pertencente a indivíduos e comunidades. Em todos os casos, a FAO salienta a importância das práticas de gestão florestal sustentável.
As florestas naturais, menos sujeitas à actividade humana, contribuem para a conservação de genótipos (a constituição genética de organismos) e para a manutenção da composição de espécies de árvores naturais, que proporcionam habitats vitais para espécies animais em vias de extinção.
As florestas ajudam a reabastecer fontes de água subterrânea cruciais para o fornecimento de água potável, a agricultura e outros usos. Elas também protegem o solo contra a erosão, avalanches e deslizamentos de terra.
As florestas plantadas, por sua vez, são desenvolvidas para fins produtivos e, quando bem geridas, podendo fornecer vários produtos, serviços florestais e ajudar a reduzir a pressão sobre as florestas naturais.
Isto também deve ser visto no contexto do aumento do consumo mundial de madeira e contínua dependência generalizada da lenha.
“A gestão florestal tem melhorado fortemente nos últimos 25 anos. Inclui planeamento, partilha de conhecimentos, legislação, políticas – uma série de medidas importantes que os países implementaram ou estão a implementar”, afirmou Kenneth MacDicken, responsável pela equipa da FAO de avaliação dos recursos florestais mundiais.
MacDicken destacou a forma como, desde 1990, a designação de novas áreas florestais para a conservação aumentou em cerca de 150 milhões de hectares e as florestas em áreas protegidas aumentaram mais de 200 milhões de hectares.
As florestas são ricas em biodiversidade e abrigam mais da metade das espécies terrestres de animais, plantas e insectos. A FAO adverte que, apesar dos esforços de conservação, a ameaça de perda de biodiversidade persiste e é provável que continue devido à desflorestação, à degradação florestal (redução da densidade de árvores por causas naturais ou humanas, tais como a exploração madeireira, os incêndios, os derrubes causados pelo vento e outros eventos), a poluição e as alterações climáticas, todos com resultados negativos.
Actualmente, a área florestal destinada principalmente para a conservação da biodiversidade é de cerca de 13 por cento das florestas do mundo, o equivalente a 524 milhões de hectares, sendo as maiores áreas localizadas no Brasil e nos Estados Unidos da América.
Ao longo dos últimos cinco anos, África registou os maiores aumentos anuais na área florestal protegida, enquanto na Europa, América do Norte e América Central esta foi menor em comparação com períodos anteriores. Na Ásia houve um aumento no período de 2010-2015, sendo este menor que em 2000-2010, mas superior ao aumento registado na década de 1990.
A desflorestação e a degradação florestal aumentaram a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, porém as florestas e as árvores em crescimento absorvem o dióxido de carbono, o principal gás com efeito de estufa. A FAO defende que uma gestão mais sustentável das florestas irá resultar numa redução das emissões de carbono provenientes das mesmas e que, portanto, tem um papel fundamental contra o impacto das alterações climáticas.
A FAO estima que o total de emissões de carbono das florestas diminuiu em mais de 25 por cento entre 2001 e 2015, principalmente devido a um abrandamento da taxa de desflorestação em todo o mundo.
Folha 8 com FAO